Como se preparar para o mercado de jogos
- PLOT INTERACTIVE

- 18 de out.
- 7 min de leitura
Atualizado: 21 de out.
Olá, bem vindos ao primeiro post do Blog da ASCJogos!
Quando realizamos eventos e apresentações sobre o Mercado e Indústria de Games ou sobre a ASCJogos, costuma surgir uma ou várias perguntas sobre o seguinte assunto: "Afinal, o que é necessário para entrar no mercado de games?"
Buscando responder algumas das (várias) possíveis dúvidas relacionadas, escrevi esse texto para poder dar um direcionamento inicial. Se tem algum tópico que gostariam de mais detalhes, entrem em contato com a gente!
O que os estúdios buscam nos profissionais
Antes de falar sobre caminhos específicos, é importante entender o que os estúdios costumam valorizar na hora de contratar. E não, não é só ter habilidade técnica (embora isso também seja importante!).
Paixão por games e entretenimento é fundamental. Parece óbvio, mas fazer jogos exige dedicação e entusiasmo genuíno pelo meio. Trabalhar com o que você ama faz toda diferença no dia a dia.
Comunicação e trabalho em equipe são essenciais. Desenvolvimento de jogos é sempre um esforço colaborativo. Você vai trabalhar com programadores, artistas, designers, produtores e muitas outras funções. Saber se comunicar claramente e trabalhar bem com pessoas diferentes é crucial.
Domínio do inglês (pelo menos leitura e escrita) se tornou praticamente obrigatório. Grande parte da documentação técnica, tutoriais, e ferramentas estão em inglês. Além disso, muitos estúdios trabalham com clientes e parceiros internacionais.
Ter uma mentalidade de aprendizado contínuo é vital em uma indústria que evolui tão rapidamente. Novas tecnologias, ferramentas e tendências surgem constantemente. Profissionais que se adaptam e buscam sempre aprender se destacam.
Saber receber feedbacks sem levar para o lado pessoal é uma habilidade que muitos subestimam. No desenvolvimento de jogos, iteração e feedback são parte do processo criativo. Você vai receber muitas opiniões sobre seu trabalho. Saber processá-las construtivamente é essencial.
Por fim, iniciativa e autogestão fazem a diferença. Estúdios valorizam profissionais que não ficam esperando ordens o tempo todo, que identificam problemas e propõem soluções, e que sabem gerenciar suas próprias tarefas.
IA: Uma realidade que não dá mais para ignorar
Vamos falar sobre o elefante na sala: inteligência artificial. É um tópico que gera muita discussão e, sim, preocupação. Mas aqui vai minha visão direta sobre o assunto.
Abracem a IA e aprendam a usá-la como ferramenta. Ela está aqui para ficar, e cada dia mais empresas estão incorporando IA em seus processos. Resistir a essa realidade só vai te deixar para trás. O que você precisa fazer é aprender a usar essas ferramentas para acelerar e melhorar a qualidade do seu trabalho.
Aqui está o ponto crucial: quanto mais você domina os conhecimentos fundamentais da sua área, melhor você usa IA. Quando você entende profundamente de programação, arte, design ou qualquer outra disciplina, você consegue especificar melhor (tanto para humanos quanto para IAs) exatamente como quer que o trabalho seja feito. Você consegue avaliar se o output está bom, identificar problemas e corrigi-los.
Os profissionais que serão mais afetados negativamente pela IA são aqueles que dependem de copiar o trabalho dos outros sem realmente entender o que estão fazendo. Para copiar, a IA é imbatível. Mas para criar algo verdadeiramente original, para ter visão criativa, para resolver problemas complexos de forma inovadora, você ainda precisa de conhecimento sólido e pensamento crítico.
A habilidade mais importante na era da IA não é só saber usá-la. É saber julgar se o resultado que ela entrega é bom o suficiente, entender por que funciona ou não funciona, e ter capacidade de melhorá-lo. Isso exige conhecimento profundo da sua área.
Então sim, use IA. Use para gerar protótipos mais rápido, para criar variações, para automatizar tarefas repetitivas, para explorar ideias. Mas invista pesado em aprender os fundamentos da sua profissão. São eles que vão te diferenciar e te permitir usar essas ferramentas de forma realmente efetiva.
Trabalhando em estúdios
Se seu objetivo é trabalhar em um estúdio, existem alguns caminhos bem estabelecidos:
Construa uma base técnica sólida. Seja você programador, artista, designer ou qualquer outra função, domine bem as ferramentas e conceitos da sua área. Não precisa saber tudo, mas precisa ter fundamentos fortes no que se propõe a fazer.
Participe de eventos da área de jogos. Conferências, encontros, talks e workshops são ótimas oportunidades para conhecer pessoas, aprender sobre o mercado e fazer networking. A indústria de games no Brasil é menor do que parece. As pessoas se conhecem e se lembram de quem aparece nos eventos.
Game Jams são suas amigas. Participar de game jams é uma forma excelente de praticar, trabalhar sob pressão, colaborar com outras pessoas e, claro, ter algo concreto para mostrar no portfólio. Além disso, é divertido!
Lance seus próprios jogos. Mesmo que sejam pequenos. Ter jogos publicados (mesmo que simples) mostra iniciativa, capacidade de finalizar projetos e oferece algo tangível para discutir em entrevistas. Falaremos mais sobre isso adiante.
Indicações têm peso forte. Na verdade, indicações de membros das equipes são um dos fatores mais importantes nas decisões de contratação. Isso reforça a importância do networking e de construir boas relações na comunidade.
Envie currículos, é claro! Mas lembre-se: um currículo com portfolio relevante e projetos concretos tem muito mais chances de se destacar. E falando em vagas, não deixe de acompanhar a seção Vagas no site da ASCJogos, onde empresas associadas publicam oportunidades.
QA (Quality Assurance) pode ser uma porta de entrada. Muitos profissionais começaram testando jogos e depois migraram para outras funções como programação, design ou produção. É uma forma de entrar na indústria, aprender como funciona o desenvolvimento e fazer conexões.
Abrindo seu próprio estúdio
Abrir um estúdio é um sonho para muitos, mas requer mais do que só saber fazer jogos. Requer maturidade e responsabilidade por outras pessoas. Você não estará cuidando apenas dos seus próprios projetos, mas do sustento e desenvolvimento de uma equipe.
É fundamental descobrir se os sócios têm vocação empreendedora. Nem todo bom desenvolvedor é um bom empreendedor. Abrir um negócio exige habilidades de gestão, vendas, finanças e planejamento estratégico. Seja honesto consigo mesmo sobre isso.
Sócios devem ser complementares. Se todos no time forem programadores ou todos forem artistas, vocês terão problemas. Busque pessoas que preencham as lacunas de habilidades do grupo, tanto técnicas quanto de negócios.
Faça um portfolio forte. Antes de buscar clientes ou investimento, você precisa ter algo concreto para mostrar. Projetos pessoais, game jams, trabalhos freelance, tudo conta.
Uma dica de ouro: no B2B (business to business), os primeiros clientes compram pessoas, não produtos. Eles estão confiando em você e sua equipe para entregar. Sua reputação, experiência e portfólio pesam muito mais do que a ideia do seu jogo no início.
Só abra empresa quando realmente precisar emitir nota fiscal. Não crie burocracia e custos antes da hora. Muitos cometem o erro de formalizar cedo demais. Teste suas ideias, valide o mercado, tenha algum fluxo de trabalho antes de oficializar.
Não reinvente a roda. Especialmente quando se trata de engines e APIs que já existem e funcionam bem. Seu tempo e recursos são limitados. Use-os para criar o que é único no seu projeto, não para recriar ferramentas que já estão disponíveis.
Conheça as métricas de sucesso do mercado. DAU (Daily Active Users), MAU (Monthly Active Users), ARPU (Average Revenue Per User), CAC (Customer Acquisition Cost), LTV (Lifetime Value), Churn e outras métricas são a língua do negócio de games. Entenda-as para tomar decisões informadas e conversar com investidores ou parceiros.
Criando seu jogo próprio
Aqui vai o conselho mais importante em letras garrafais: ⚠️ COMECE COM ESCOPOS PEQUENOS E LANCE SEUS JOGOS!!! Sério. A quantidade de projetos ambiciosos que nunca saem do papel é enorme. É melhor lançar 5 jogos pequenos do que ficar 5 anos trabalhando em um jogo que nunca fica pronto. Você aprende muito mais lançando.
Entenda as plataformas
Steam é diferente de Mobile, que é diferente de Console, que é diferente de Web. Cada plataforma tem suas particularidades em divulgação, regras e público. O que funciona no mobile pode não funcionar no Steam, e vice-versa.
Perguntas essenciais antes de começar:
Você sabe o tamanho do mercado do gênero do seu jogo?
Sabe se esse mercado está saturado ou não?
Quais são seus principais benchmarks (jogos similares de sucesso)?
Essas respostas vão te ajudar a ter expectativas realistas e a tomar decisões estratégicas!
Dicas para Mobile
Aprenda a fazer ASO (App Store Optimization). É o "SEO" das lojas de aplicativos. Seu jogo precisa ser encontrado.
Se prepare para gastar dinheiro com Ads ou então estruture excelentes canais de marketing. No mobile, divulgação orgânica é especialmente desafiadora. Você vai precisar de uma estratégia sólida.
Dicas para Steam
Não lance o jogo com menos de 7.000 wishlists. Isso não é uma regra rígida, mas é um indicador importante de interesse inicial. Lançar com menos pode significar visibilidade muito baixa.
Participe de todos os festivais possíveis (Steam Next Fest, por exemplo). É visibilidade gratuita e valiosa.
Colha feedbacks de jogadores o quanto antes. Use plataformas como itch.io, canais como AlphaBetaGamer, comunidades no Discord e Reddit. Feedback antecipado pode salvar seu projeto.
O demo se tornou um milestone importante de marketing. Considere lançá-lo primeiro em outras plataformas para gerar buzz antes de chegar na Steam.
Oportunidades e próximos passos
Se você está buscando oportunidades na indústria, além de seguir as dicas acima, fique de olho em:
Programas de estágio oferecidos por diversos estúdios.
A seção Vagas no site da ASCJogos, onde empresas associadas publicam posições abertas regularmente.
Eventos e encontros da comunidade de desenvolvimento de jogos.
Lembre-se: portfolio relevante com projetos publicados e indicações têm alta taxa de sucesso. Invista tempo construindo sua presença na comunidade e trabalhos que você possa mostrar.
Sobre o autor:
Leonardo Guedes Bilck é apaixonado por games e sócio da Plot Kids e Truth and Tales, estúdios brasileiros focados em desenvolvimento de jogos e animação que já trabalharam com empresas como Disney e Sanrio. Com anos de experiência em projetos, Leonardo participa ativamente da comunidade de desenvolvimento através da ASCJogos e acredita que compartilhar conhecimento é essencial para o crescimento da indústria brasileira de jogos.
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